lundi 25 avril 2011

Diva Pavesi entrevistada pela Revista Raça






DIVA PAVESI
Além do carnaval
Ex-porta-bandeira da Rosas de Ouro dá show de superação e promove artes brasileiras no exterior

POR JUSSARA GOYANO




Conteúdo era uma meta, quase uma obsessão para a jornalista e relações públicas Diva Pavesi, hoje com 54 anos. "Esse seria o meu diferencial", conta ela, nascida e criada na Freguesia do Ó, em São Paulo. "Queria mostrar que é possível viver na vertical", diz, tentando desfazer a impressão que, erroneamente, ainda se tem das "mulatas" da periferia e do carnaval brasileiro.

Antes de ser uma das porta-bandeiras mais conhecidas de sua época, Diva foi doméstica (começou com 8 anos de idade, lavando pratos em cima de um banquinho), mas soube aproveitar as oportunidades que teve para se tornar o que é hoje: de moça pobre do samba transformou-se em uma espécie de embaixadora da arte e cultura brasileiras na França (e vice-versa). "Sempre tive o nariz em pé", explica, relembrando a infância difícil e violenta, à qual não sucumbiu. Trajetória com resultados: depois dos estudos básicos apoiados pela patroa alemã - "Tia Erza" -, e dos diplomas obtidos junto à Fundação Cásper Líbero, em São Paulo, Diva pós-graduou-se na Sorbonne, em Paris, e na Universidade de Dublin, na Irlanda. Fala fluentemente quatro idiomas: francês, inglês, italiano e espanhol. Criou e dirige o Divine Institut des Arts et Culture e sua própria editora, e com eles promove exposições, saraus e publica livros diversos. Seus eventos ocorrem nas mais importantes galerias de Paris, bem como em salões de museus célebres, como o Louvre. Ela segue trabalhando em rádio e TV, além de suas atividades de promoção cultural e como membro e delegada, por Brasil e Portugal, da Academia Francesa de Artes, Ciências e Letras.

NÃO É NADA FÁCIL
A relações públicas venceu não sem enfrentar um "velho conhecido" de sua história, aquilo a que chama de "discriminação étnica", para não dizer a palavra que tanto detesta (preconceito). "Não é fácil ser negra no seu País, imagine lá fora", afirma. Aqui, por causa da discriminação, Diva - filha de mãe negra com pai português e branco (ex-cozinheiro da família Matarazzo) - viveu muito tempo sem saber de sua verdadeira origem.
Seu pai sumiu, por influência da família, que não admitia o relacionamento dele com a mãe, obviamente por causa de sua cor. Em uma festa de casamento ele reapareceu, o que poderia significar o acesso de Diva a uma nova realidade, bem distante das surras e broncas perpetradas pelo padrasto contra a mãe e ela, na época com seus 12 anos. Infelizmente, o contato ficou por aí. Foi quando caiu em si sobre a dificuldade irradiada por sua condição social. Mas deu de ombros a essa constatação, tendo certo o que queria para tudo ser diferente: "Casar por amor, respeito e nada de conviver com a violência", conta ela. E, claro, uma dose extra de estudo. Com todo e qualquer obstáculo, seguiu sendo a melhor aluna da classe, juntando-se aos coleguinhas com a mesma vocação. "Tinha intolerância com quem não queria estudar, subir na vida. Procurava as amiguinhas inteligentes." Foi assim que Diva, na época uma beldade em potencial, aproveitou a formação e disciplina que lhe proporcionava a Tia Erza, com acesso a todo tipo de conhecimento e leitura. "Foi ela quem me ensinou rigor e pragmatismo", explica a jornalista, que, no entanto, não negou aquilo que sua bela aparência pôde lhe proporcionar.
INFLUÊNCIA DE BAMBAS
Aos 16 anos, de tão bela, Diva chamou a atenção dos organizadores da escola de samba Portelinha, em São Paulo, que pediram, encantados, que ela segurasse o estandarte durante um ensaio, substituindo a porta-bandeira oficial. E Diva rodopiou como se nunca tivesse feito outra coisa na vida. Tornou-se, assim, a primeira porta-bandeira da Portelinha e, mais adiante, assumiu a mesma função na Rosas de Ouro, permanecendo de 1974 a 1986. "Fui batizada pela famosa Vilma da Portela. Em 1975, o grande visionário presidente Basílio me levou para assistir aos desfiles das escolas do Rio de Janeiro e me incentivou a aprender a dançar como as grandes porta-bandeiras Vilma, Mocinha e Neide", conta.
Nesse tempo, foi duas vezes consecutivas a primeira Princesa do Carnaval Paulistano (1983 e 84). Trabalhou como manequim do antigo Salão Internacional da Indústria Têxtil (Fenit). Posou para a Playboy e tornou-se garota-propaganda da marca Cartier no Brasil. Tudo isso, no entanto, sem deixar de cursar as faculdades de jornalismo e relações públicas. E foi mãe, aos 19 anos!

"DISCRIMINAÇÃO É, NA VERDADE (E EM TODOS OS SENTIDOS), FALTA DE EDUCAÇÃO"

PIONEIRA NA TV
Como jornalista, Diva foi a primeira âncora negra da TV brasileira, na emissora paulista Gazeta, em meados da década de 1980. Deram-lhe um horário de boa audiência e o programa musical Night Clip. Mas ela queria mais. Queria ter novos aprendizados em outros países - descobriu ainda menina a sua facilidade com idiomas. Pediu ao professor Erasmo Nuzzi (na época, diretor da Cásper Líbero) uma ajuda na carreira internacional. Assim, tornou-se professora da primeira Faculdade de Comunicação Social de Lisboa, em Portugal. Lá não foi diferente: tratou de ser a primeira negra brasileira a apresentar um programa na RTP, emissora local, liderando a audiência, e fez par com o famoso jornalista português Ruy Castelar também no rádio. Um passo para toda a Europa.
A jornalista já tinha ido a Paris, em férias, quando disse para si mesma: "quero morar aqui", profetizando sua vida, em uma visita à Torre Eiffel. Eis que, em Portugal, conheceu o grande amor de sua vida, um francês de 23 anos (Diva tinha, então, 30). Tratava-se de um jovem e promissor empresário. Diva casou-se em 1991 e seu relacionamento já dura 25 anos. Foi aí que se mudou para a Cidade-Luz, onde tudo aconteceu: reforçou seus estudos, criou o instituto, escreveu e promoveu livros, conduziu diversos eventos, passando temporadas em países europeus distintos.

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